Há certas leituras hermenêuticas
que precisamos parar e pensar. Engolimos muitos conceitos re-torcidos
(ou distorcidos?). Muita tradição. Muitas leituras de terceiros-dogmatizados-inveterados. Muitos
concílios (Ah, os concílios!). Acabamos por beber daquilo que os outros
pensa(ra)m e determina(ra)m na esteira político-religiosa.
E como se foge disso? Descobrindo
novos caminhos por onde percorrer destronando a tradição. Possível?
A recente obra do Professor Dr. Osvaldo Luiz Ribeiro, participante desta página: "Esboços de Teologia Crítica" (Fonte Editorial), oferece, nesta direção, propostas para uma teologia (pós)metafísica e, por isso, muitas inquietações (para mim, como respostas, embora não conclusivas - como o próprio autor afirma). Para Ribeiro, esse novo horizonte já foi aberto com Marx, Nietzsche, Freud, Feuerbach... Todavia, não será uma questão
de fácil argumentação por aqui, pois a metafísica lambe, neste contexto em que se diz (pós)moderno, todo o pus da
ferida causada por tais pensadores. Ela brinca com os riscos.
Blasfema da realidade e engana-se enganando o mundo com suas
perspectivas e experiências divinas.
Qual a saída?
Escolher
a melhor ideia já estabelecida no século XIX, a cabeça que melhor
estrutura os conceitos dentro da realidade. E isso também não é fácil.
Até aqui, ciências humanas?!
E para as relações humanas? Difere?
É
quase um caminho impossível para alguns. Poríamos em pauta o assunto da
conversão? Não uma conversão no sentido de uma religião para outra, mas
uma mudança de vislumbramento do sagrado. Ou, quem sabe, uma nova fronteira de pensamento sobre a relação de Deus-ciência-humanidade? Isto é, a(s) ciência(s) (humanas) como propulsora e intermediadora entre Deus e o homem. (olha a ligação aí!)
Talvez
a questão mais intrigante seja permanecer no mesmo meio religioso em
que se vive e se permitir a transformação de pensamento (ali dentro).
Deixar as leituras mudarem o "ser" e o "Ser" equivocado - visto por nós. É
deixar Deus livre, liberto. Sim, porque se, no pensamento cristão, Ele
veio para libertar, acabamos por escravizá-lo nas teias institucionais e
eclesiais através da hierarquia (dada de cima? humm...).
Aí, entra o Vattimo, com sua obra "Acreditar em Acreditar", uma leitura mais tranquila e relaxante do que a leitura da já referida obra de Ribeiro. (Aliás, quem lê Ribeiro antes do Vattimo, para a leitura no meio.)
Desconectar
os sentidos imediatos arraigados pela tradição e crer numa manifestação
da dúvida, dos novos olhares. Há que se ter uma sensibilidade aguçada
para descrer do óbvio e cavar mais profundamente aquilo de que
inventamos para gestar sentidos na humanidade. É mais do uma leitura (pós)metafísica para a Teologia, é uma leitura para os relacionamentos humanos.
Uma proposta: a conversão de Deus para o homem. Não é uma relação de revelações, mas de afinidades
kenóticas. Não é uma relação de autoritarismos, violências,
sanguinolências, mas de amizade. Uma conversão de cima para baixo. Não
para implementar um modelo humano (na linguagem religiosa: mundano) para Deus, mas para trazê-lo à
existência como a um Humano. Para Vattimo, a proposta seria esta.
Verificar, sem deixar os ensinamentos cristãos (o Osvaldo, acho, fica doido com
isso), mas aproveitar os seus ensinamentos ressignificando-os (termo-método utilizado na neuroliguística) para nosso tempo.
Ressignificar. Ressignificar é consultar as mesmas fontes com olhos abertos. Bem abertos. Daí, senhores e senhoras, minha cabeça gira em torno destes supracitados autores e obras. Duro mesmo será conviver neste mundo-religioso sem atentar para o esvaziamento de si e esvaziamento do Si.
E como dizemos no interior: "entra pra ver".
Por: Nelson Lellis
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